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Cruel, sobrenatural e explícito: “Deuses Caídos”, de Gabriel Tennyson, é o livro de terror nacional que vai te fazer perder o sono

Publicado em 14 set, 2018

Deuses Caídos – Gabriel Tennyson
ISBN-10: 8556510663
Ano: 2018 / Páginas: 300
Editora: Suma
Classificação: 

Um serial killer com poderes paranormais está assassinando evangelistas famosos — e os vídeos de cada um deles sendo torturados ganham cada vez mais público na internet. O assassino se proclama o novo messias, e os pecadores devem temer sua justiça. O que a Sociedade de São Tomé teme, no entanto, é que ele acabe com o trabalho de séculos de manter o sobrenatural bem afastado da consciência da população, embora seres mágicos povoem o submundo da cidade. Para garantir que o assassino seja capturado e o máximo de discrição mantida, a Sociedade convoca Judas Cipriano — um padre indisciplinado, descendente de são Cipriano e herdeiro de alguns poderes celestiais. Veterano nesse tipo de caso, o padre é enviado para trabalhar como consultor da Polícia Civil e fica responsável por apresentar à jovem inspetora Júlia Abdemi o lado místico da cidade.

A Suma de Letras é, oficialmente, a casa de Stephen King no Brasil. Quando uma editora referência por lançar os livros do maior autor de terror de todos os tempos dá espaço para um nome nacional é sinal de que o material publicado é bom, certo? Algo a se comemorar, na verdade. A gente bem sabe o quão difícil é autores da terra conquistarem o espaço que merecem, aliás, esses anos de internet me provaram que escritor talentoso existe, o mercado que não os absorve.

Com um projeto gráfico incrível e um comentário de Raphael Montes na capa minhas expectativas para Deuses Caídos se estabeleceram altas. E olha, nem sei por onde começar os elogios. É, de longe, um dos livros que mais me surpreenderam e reviraram o estômago. Na lista abaixo tentei pontuar o que me fez perder o fôlego e marcar o livro como um dos favoritos do ano.

1- PROXIMIDADE

Sempre me senti orfão de histórias de terror ambientadas em terras tupiniquins. Sabe aquela travada na espinha que só a sensação de proximidade pode causar? Uma chacina envolvendo 30 crianças na Irlanda às vezes não impacta tanto quanto a morte de um casal de idosos num sítio em Maceió, por exemplo. Em Deuses Caídos a história foi ambientada no Rio de Janeiro. O fato de conhecer ou conseguir imaginar com mais propriedade a maioria dos cenários contribuiu muito para a empatia nessa história. Digo isso me referindo aos ambientes comuns, os  surreais (muito bem construídos, por sinal) foram pura imaginação sendo instigada. Um trabalho incrível.

Devido ao exotismo dos crimes, as teorias lançadas pelo padre começavam a penetrar na muralha de ceticismo de Júlia. Se ela podia se comunicar com máquinas, por que a existência do sobrenatural seria tão implausível? Psiquismo não era tão diferente de magia, talvez fosse o mesmo fenômeno explicado por uma ótica diferente.

2- DOSAGEM

Não consegui identificar cenas ou descrições dispensáveis nesse livro. Quem costuma ler sabe que uma pausa na leitura quando as coisas estão mornas demais é a coisa mais comum do mundo. Na obra de Tennysson isso não existe. Não há um segundo de paz sequer. Do início ao fim eu me vi desconfortável, ansioso e vidrado em todas as bizarrices descritas nesse submundo carioca. A curiosidade me fez devorar tudo em pouco tempo.

3- SINOPSE

De forma resumida, a obra em questão acompanha uma investigação policial não muito convencional (até onde imaginamos que sejam as do mundo real). Vários homens de fé, leia-se líderes religiosos corruptos, estão sendo torturados em lives na internet. O público que assiste aos rituais de tortura é quem decide se eles vivem ou não. Ao que tudo indica, os crimes vão além do escopo tradicional e se voltam para o sobrenatural. Para resolver esse singelo problema a inspetora Júlia Abdemi é alocada para trabalhar com Judas Cipriano, um padre exorcista que trabalha para a Igreja e para a Policia Civil em casos similares. Se você não consegue imaginar nada genial dentro disso leia os próximos tópicos.

4. ENRENDO ATUAL

É com a urgência de vítimas (?) prestes a morrer por causa de uma audiência com ânsia de vingança que Cipriano e Júlia precisam trabalhar. A exposição de crimes sexuais e de natureza semelhantes faz com que as pessoas que assistem do outro lado da tela queiram punições imediatas. Elas desejam com todo o fervor que o padre pedófilo seja violentado também. Olho por olho. O público está sedento por sangue e só cresce em números. Nesse aspecto é fácil compreender as proporções que um escândalo toma quando vivemos na era da internet. A entidade por trás dessas revelações e assassinatos transmitidos ao vivo quer colocar em discussão o poder de um Cristo que permite que crianças sejam violentadas e algozes continuem incólumes. De início não se sabe muito bem quem é o inimigo. Seu modus operandi é sinistro, rodeado de conceitos abomináveis e ares sombrios. Seria um homem comum possuído? Um demônio foragido? Uma alma ancestral perturbada?

Enquanto aguardava o táxi, tentou se distrair imaginando que tipo de entidade torturara o Apóstolo Santana. O criminoso era fluente no idioma angelical e falava com dezenas de vozes diferentes. Será que Jezebel estava enganada? Seria o próprio Legião ou outra falange de anjos caídos? Nesse caso, por que atacar um pastor corrupto, se Santana prestava um belo serviço aos senhores do inferno?

5. UM MUNDO NOVO

Vampiros, fadas, gárgulas, feiticeiros, anjos e golens compõem o elenco de personagens nessa história. Esqueça suas concepções teen sobre todos eles. Feche os olhos e se imagine em Silent Hill. Prenda a respiração para não sentir o odor de putrefação e baratas que paira sobre algum deles. Para além do Rio de Janeiro repleto de turistas existe um submundo em que todos eles convivem – nem sempre em harmonia. É gostoso demais acompanhar esse universo. Alguns podem achar uma grande confusão, mas eu digo que tudo se encaixa. A interpretação do saci, por exemplo, é uma das minhas partes prediletas. A fada do dente também impressiona.

6. É UM LIVRO +18

Drogas, álcool, sexo, automutilação, suicídio e o corpo humano retorcido e retalhado de formas que você jamais imaginou. Quando eu digo que me arrepiei lendo, não me refiro apenas ao tom sobrenatural de tudo. Todas as atrocidades que foram acometidas aos seres humanos dessa história são bizarras e assustadoras. Gore. É visceral, grotesco e intimidador. Preocupa porque não é impossível ou improvável de se repetir em um cativeiro qualquer. Os maiores monstros ainda continuam sendo os nossos iguais. Vivemos numa sociedade de psicopatas.

Antes de ser violentado por três homens em uma cela em Bangu I, César foi um dedicado professor. Mas isso foi em outra vida, quando não carregava a acusação pelo estupro de uma criança. Seu inferno não veio com fogo ou enxofre, mas no gosto azedo dos detentos, nas surras diárias que lhe custaram os dentes, nas tentativas de voltar à carreira, apesar da ficha criminal. Após cumprir pena, César conquistou o sonho de liberdade para dormir no cimento áspero das calçadas da Vila Mimosa.

7. REFERÊNCIAS

O título do livro talvez entregue ou sugira algo de religioso e fantástico nessa trama e é bem por aí mesmo. O autor mergulha fundo nas crenças que construíram o mundo como o conhecemos hoje. É ancestral, mágico e escrito sem o menor pudor. As citações bíblicas são tão frequentes que me sinto culpado por não ter sequer concluído minha primeira comunhão. O autor reflete sobre episódios bíblicos e histórias das mais diversas religiões para justificar cada teoria maluca sobre o que está acontecendo e quem está por trás dos crimes. Das matrizes africanas ao povo judeu, bruxas e entidades malignas são citadas numa legítima sopa de criatividade.

8. PERSONAGENS FORTES

Apesar de ter início, meio e fim, o livro tem algumas pontas soltas que poderiam se tornar capítulos novos dentro desse universo. Na verdade, os protagonistas são muito bons. Não seria nada mal acompanhá-los em desafios diferentes. Narrado em terceira pessoa, o livro entrega o melhor de cada um. Cipriano é sujo e corajoso. Gargalha na cara do perigo e entra no hall dos anti heróis que todo leitor adora. Sua história é contada no decorrer das investigações e não poderia ser menos cruel que toda a situação. Ele é um exorcista meio-santo que carrega dons pesados demais, quase um calvário em forma de poder. Júlia é mais que uma policial negra e mãe de família. Ela carrega habilidades de conexão com tudo que é virtual. Descobrir o que/quem ela é faz parte da graça dessa história. E o inimigo? Bem. Ele é profano.

Quando forem ler Deuses Caídos aguardem por esse nome: Gi Jong.

É um dos trunfos da história. A grande cereja do bolo. Incrível! Quero mais desses personagem.

Em grande velocidade, filamentos brotaram daquela espinha e começaram a recriar um esqueleto. O crepitar das calcificações misturou-se ao borbulhar da medula que preenchia os ossos. Nervos, veias e artérias se alastraram feito trepadeiras, enquanto na caixa torácica, órgãos inflaram para bobear sangue e enzimas — tudo nascido a olho nu —, revelando que a natureza gestava uma abominação dentro de um útero invisível.

9. DESFECHO ÉPICO

O que você precisa saber é que Tennyson não perde o ritmo de início ao fim. A mente insana do autor prepara surpresas desumanas até o último capítulo. Tente dormir depois de ler esse livro! É insônia na certa. Ter a certeza de que há muito mais entre o céu e a terra do que podemos entender tira o sono de qualquer um. Não é exagero dizer que o livro me fez refletir sobre lendas urbanas, episódios da história da humanidade e tudo o que acontece por trás das câmeras. Nas sombras.

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