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Quando apita os 45 do segundo tempo

Publicado em 11 set, 2017

Era um dia de sol, desses que a gente olha para as árvores e enxerga uma dança. Um balanço que te convida pra perto. Era um dia em que respirar não doía, não pesava, não exigia. Era um dia bonito. Eu lembro da sensação de estar correndo, chutando uma bola. Levantando a poeira do chão de barro batido. A posse da bola era minha e havia dois times atrás. O que eu fazia parte e o adversário. Aquele era o meu momento. Eu tinha nove anos e nas costas algo a provar. Não por querer, mas necessidade. Chutei a bola, mas o goleiro agarrou. Não fiz gol, nem história. Eu lembro do tempo parar, dos gritos cessarem e do professor de educação física rir incrédulo do que tinha acabado de acontecer.

Eu havia perdido ou eu havia conquistado alguma coisa no final das contas?

É normal pensar em desistir. Cogitar deixar para lá, cessar os esforços. Dar um pause naquela música que não sai da sua cabeça, mas de alguma forma não é a trilha sonora para o momento. Por que já passou. Simples assim. É normal desistir. Voltar-se para outros caminhos. Mudar o foco. Sou ruim em muitas, muitas coisas, mas sou bom em outras mil. Sou ruim em tudo que não tentei, não gosto de tudo que nunca provei e me rendo a tudo que me fez feliz. Quando um avião cai levando embora vidas, sonhos e futuros que nunca existirão, ele também leva um pouco de todo mundo que não estava no voo. É uma tragédia, uma catástrofe. Tão ruim quanto não arriscar, não se entregar, não se doar ao jogo.

A vida para quem não embarcou segue. A vida para quem não fez o gol de desempate nos acréscimos do segundo tempo também segue. E segue bem rápida. Tirando jogador de campo e convocando os reservas.

Receio aparentar prepotência por falar tanto da vida como quem já presenciou guerras mundias, publicou livros sobre elas e descobriu curas para lástimas devastadoras, mas eu não consigo não tirar minhas próprias conclusões. Se as aulas de educação física me provaram que eu realmente não nasci para o futebol? Sim. Essas aulas também mostraram um jeito de seguir em frente com os sapatos sujos de lama, os joelhos ralados e uma fama de perna de pau. É tudo um teste, uma tentativa e um item a mais ou a menos na lista. É sobre o que você quer e não quer. Sobre qual time jogar e onde vestir a camisa.

Pois existirão dias de sol, desses que a gente olha para as árvores e enxerga uma dança. Dias em que respirar não vai exigir nada porque você vai estar no caminho certo. No balanço certo dos convites certos. Nem que seja nos 45 do segundo tempo.

Felipe Miranda

Felipe Miranda

Sou redator, produtor de conteúdo, freelancer 24h e quase jornalista. Não consigo ficar quieto. Criei o OMD aos 15 anos e de lá para cá já vivi um mundo inteiro de histórias malucas (sem nem sair de casa).

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