Consegui driblar seis pessoas ainda nos degraus de entrada do ônibus. Passei a catraca, facilmente confundida com um paredão anti-fuga da Al Khaeda e sentei. Numa olhada geral contei mais quatro assentos vagos. Até o meu destino final, pelo menos umas 70 pessoas iam fazer esse mesmo percurso e seguir a viagem a pé. Menção honrosa aos cabras que, desafiando leis pré-definidas pela física, bilogia e o próprio Jack Chan, pularam a catraca de três metros de altura. Elasticidade, eu diria. Quis aplaudir, mas poderia ser um assalto. Melhor não chamar atenção.
Fecho os olhos e tento cochilar. Ventinho bom no rosto… É que sentei perto da janela. A playlist está topada, já decorei a música nova da minha banda favorita e minha mochila é a melhor tradução para “quentinho gostoso”. É que estou abraçado nela e quase deitado no espaço mínimo que paguei pelos consideráveis R$ 3,50. Sério que aceitamos um aumento de passagem sem protestar na Centenário? Da última vez que a juventude alagoana foi às ruas eu lembro bem de ter entoado canções do Legião Urbana por todo o centro de Maceió. Foi inebriante. Até conseguimos adiar aqueles terríveis R$ 0,20 centavos.
Abstraio a situação politico-econômica do país e penso no agora. Situação mais que favorável para uma imersão nos vales profundos do cochilo de lei, até que um carro de som invade pela porta dos fundos.
Um paredão. Pendurado no pescoço de um rapaz, aparentemente, cego. É o que ele defende. Num microfone acoplado a três caixas de som que ele, orgulhosamente, ostenta na cintura. Eu já mencionei a bengala? O que ele disse antes de começar a cantar eu não ouvi direito até que tirei meus fones do ouvido e me entreguei a uma versão muito da original de “I Will Always Love You”, da finada Whitney Houston. Que mulher. E que homem.
Assim que ele desceu do ônibus, mais dois artistas subiram. Eu tinha adorado o show, mas queria mesmo é voltar a dormir. Não pude. Estados Unidos e Maragogi, duas potências internacionalmente conhecidas e influentes até fora desse plano me impediram. Aliás, representantes de cada lugar. De um lado, Barack Obama versão caeté vendendo amendoim torrado. Uma subcelebridade alagoana. Do outro, um moço oferecendo aquelas bolachas tipo sete capas, doces e salgadas, vindas diretamente do litoral Norte do Estado: as benditas Bolachas Maragogi, aquelas mesmo… Que a gente precisa comer revestido numa manta protetora para não se sujar enquanto come até regojizar e pedir mais e mais e mais.
so I’ll gooo
but I knoooow
I’ll think of you
every step ooof the waaaay
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