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[Resenha] 1984 – George Orwell

Publicado em 25 jan, 2015

1984 – George Orwell
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535914849
Ano: 2009
Páginas: 416
Classificação: 
Página do livro no Skoob

Winston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que ‘só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade – só o poder pelo poder, poder puro.’

Publicado em 1949, a obra “1984” de George Orwell não tem prazo de validade – bons livros costumam ser assim. Todas as críticas e reflexões apresentadas pelo jornalista, crítico e romancista se tornam atuais e encaixáveis em diversos contextos sociais em que vivemos. É atemporal mesmo. Será que estamos em uma situação diferente da imaginada pelo autor há mais de 50 anos?

Entre tantas distopias publicadas recentemente, nenhuma se aprofunda tanto nas entranhas governamentais como “1984”. Nenhum sistema de poder totalitário ficcional convence e assusta tanto quanto o descrito por Orwell. Genial, assustador, crítico e denso. Podemos estar vivendo tudo isso agora mesmo.

Existem somente três continentes nesse novo mundo criado pelo autor: Oceania, Eurásia e Lestásia. A guerra é uma constante. Não importa contra quem, a Oceania sempre está em batalha. Durante a leitura, aliados e inimigos trocam de posição inúmeras vezes. Em algum momento ficará claro que tudo não passa de mais um golpe, uma forma de controlar a população. Não existem memórias de algum período em que a paz reinou. É provável que a própria Oceania jogue bombas em seus cidadãos para instigar o medo. Tem de ler para entender essa loucura.

Não há leis ou regras, nada é ilegal. Mas se alguém ousar ter algum pensamento inortodoxo, a Polícia das Ideias irá te expurgar. E quando se diz pensar, é pensar mesmo. Todos vivem em um regime de vigilância abusivo em que teletelas filmam você 24 horas por dia. O Grande Irmão – que é a força maior, o Estado – reescreve a história de acordo com os próprios objetivos. Está aqui um dos pontos mais absurdos da trama. Não existe um passado real. Pinturas, músicas, esculturas, notícias, livros, artigos, tudo é refeito e reescrito a cada dia para atender às necessidades do sistema. Consequentemente, não há memórias de um período de paz. Não há vestígios que indiquem que as coisas um dia foram melhores. E se não há um modo de comparação com o ontem, como rebelar-se? Como pode existir um futuro se o presente é tão falso quanto tudo que já passou? A história já começa com o protagonista Winston Smith duvidando do próprio ano em que vive.

O Partido tem dois objetivos claros com tudo isso: descobrir o que cada cidadão está pensando e usar os maiores medos de cada um para matá-los. Já os contrarrevolucionários querem somente manter o lado humano deles mesmos vivo em meio às torturas. Existe um boato de que uma organização contrária à doutrina do Grande Irmão está se erguendo e se estabelecendo: a Confraria. Enquanto vamos conhecendo os detalhes mais sórdidos desse mundo, acompanhamos Wiston em uma batalha interna para aceitar o inevitável: ele não acredita no poder que o controla. Estaria ele sozinho contra a ditadura? Será que smomente ele foi capaz de perceber que está vivendo em uma Era que é tão primitiva quanto ela foi há 50 anos? Imóvel e retrógada?

O enredo ganha força quando Wiston se apaixona por Julia. O amor deles se torna um ato político. Um golpe contra o Partido. Eles passam a se encontrar às escondidas – sim, relacionar-se é contra as regras inexistentes. O sexo é visto como repulsivo, assim como o ato de gostar de alguém. Juntos, eles vão atrás de membros da Confraria e a nós, leitores, resta-nos torcer pela liberdade deles. O Grande Irmão tem olhos em todo e qualquer lugar. Ele está dando aquela espiadinha, sabe?

Outro detalhe que choca é a constante edição dos dicionários. Palavras são extintas, outras são criadas. O vocabulário é reduzido ao “extremamente necessário”. Sabe por quê? O Partido quer evitar que existam recursos que permitam o povo pensar e elaborar ideias contrárias àquelas que eles pregam. Assustador? É agoniante acompanhar tudo isso. Qualquer pensamento que fuja à ortodoxia será visto como absurdo e genérico. O raciocínio lógico é impossível sem palavras para fundamentá-lo.

Narrado em terceira pessoa, o livro já teve mais de 39 edições publicadas no Brasil. A mais recente é de 2009, pela editora Companhia das Letras, contando com posfácios do psicanalista Erich Fromm, do historiador Bem Pimlott e do escritor Thomas Pynchon. Em 1984, o britânico John Hurt (“O Senhor dos Anéis”, “Crime e Castigo”, “V de Vingança”, “Harry Potter”) viveu Winston Smith nos cinemas.

Bem recebido pela crítica especializada, o longa-metragem foi lançado em duas versões por motivos conflituosos. O duo britânico Eurythmics foi contratado pela produtora Virgin Films para criar a trilha sonora da produção, mas o trabalho foi solenemente recusado pelo diretor Michael Radford, que não aderiu ao tecnopop da dupla. Radford já havia destinado Dominic Muldowey para a mesma função meses antes e, em protesto contra a decisão dos produtores de lançarem o filme com as duas trilhas, o diretor retirou o longa das indicações ao prêmio da Academia Britânica de Artes do Cinema e Televisão naquele mesmo ano.

O Eurythmics lançou o álbum “1984”, com a trilha de músicas inéditas, um mês depois de o filme estrear. “Sexcrime” foi o único single de sucesso do disco, lembrado como o maior fracasso da dupla.

Felipe Miranda

Felipe Miranda

Sou redator, produtor de conteúdo, freelancer 24h e quase jornalista. Não consigo ficar quieto. Criei o OMD aos 15 anos e de lá para cá já vivi um mundo inteiro de histórias malucas (sem nem sair de casa).

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