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Quando toca Carly Rae Jepsen no fim do mundo

Publicado em 21 mar, 2020

Carly Rae Jepsen desfila pelo palco com uma espécie de sobretudo vermelho feito de tule. Botas e calças amarelas vão para lá e para cá em algum festival underground e supercool de Barcelona. Underground e supercool é o tipo de classificação que me vem à mente após 24h dentro de casa. Não estou pensando direito. Não é muito tempo confinado, na verdade. É ridículo reclamar sobre esse isolamento quando sua causa é uma pandemia global que está dizimando a população da terra. Mas é que Carly no momento é a personificação de tudo que está dando errado em 2020 – e eu não consigo ouvi-la cantar sobre ela não ser boa em dizer adeus, enquanto dá adeus e vai às compras. É demais para mim (e a música, veja só, se chama Store mesmo).

A geladeira estala do nada, enquanto escrevo isso tudo. São 01:23 da manhã e faltam duas horas e alguns minutos para a famosa hora do anticristo que eu aprendi nos filmes de terror. Poderia ser pior, mas faz três semanas que tento aprender os barulhos peculiares do meu novo cantinho no mundo. Alguém passou na rua, gritando e socando a janela e eu me assustei porque pela primeira vez não tenho para quem pedir ajuda imediatamente se a torneira quebrar ou o chuveiro quente parar de funcionar. Como diabos se troca um botijão de gás?

Só nessa noite eu maratonei vídeos das temporadas mais atuais do The Voice, revi os melhores lipsyncs de RuPauls Drag Race, tomei duas cervejas sozinho enquanto criava uma playlist chamada “Talvez seja o Fim” e comecei um livro novo – que provavelmente eu abandone amanhã, pois minha ressaca literária está há meses comigo. É o dia 1 de uma quarentena que pode durar até setembro segundo algum ministro possivelmente importante e contaminado com o próprio COVID-19. E o que tudo isso tem a ver?

Acho que só consigo explicar mais para frente.

Da última vez que escrevi sobre mim neste site eu estava na Vila Madalena observando o primeiro encontro desastroso de duas pessoas aparentemente muito afim uma da outra. Isso foi há dois anos e na época eu achei que eles deveriam ao menos transar e seguir a vida. Não ia render mais do que aquilo.

Transar e seguir a vida.

Tá aí duas coisas que são extremamente fáceis e descomplicadas de fazer.

Tá aí duas coisas estupidamente difíceis e completamente complicadas de fazer.

E como lembrei dessa cena toda?

É que andei chorando de rir para trás e chorando de chorar doído vendo uma série – e achei que isso tudo ao mesmo tempo em episódios de apenas 30 minutos seria um bom motivo para voltar a escrever sobre tudo que estou sentindo nessa atmosfera apocalíptica.

Estou na reta final dessa tal série misteriosa – que acho mais poético manter o título em segredo para somar ao contexto geral – e nela o relacionamento dos protagonistas é a coisa mais neurótica e descompensada que já vi na telona. Telona não de cinema, mas de 50 polegadas mesmo. Eu, que após três anos de namoro me vejo morando sozinho pela primeira vez há algumas muitas/poucas semanas, analiso cada cena e evolução deles juntos com o olhar mais bobo possível. Porque a gente esquece que há beleza nos recomeços? Essa história de mentirinha está sendo um mergulho muito bonito na modernidade das trocas de afeto.

De diálogos sobre como a primeira transa é superestimada à real explicação de por qual motivo não respondemos as pessoas imediatamente no whatsapp, a série tem me feito pensar em todas as relações que tive até agora. Até meus 25 anos completados em fevereiro sem muita comemoração. Nunca gostei da pressão social que me obriga a fazer festa e postar textão sobre novos ciclos, quando na verdade o único presente que qualquer um realmente gostaria de ter é estabilidade emocional e um pezinho fora da crise de ansiedade. Na verdade posso retirar tudo isso que disse porque qualquer situação usada para tomar uma é bem-vinda. Celebremos minhas bodas de prata sem casamento. Cheers!

Carly Rae Jepsen é um show que não verei tão cedo, e pelos próximos dias a única banda a se apresentar por aqui vai ser a minha. A que eu levo em turnê diariamente no meu banho, enquanto imagino situações que nunca acontecem. Um banho que diante o coronavírus se tornou tenso e cheio de importâncias. Um minuto de paz não vai existir durante esse período. 

Para cada cômodo do apartamento, um cheiro. Um som diferente. Uma trilha sonora que vou ressignificar porque não posso estranhar minha cama nova todas as noites. Todas as noites é muito tempo. O desfecho da série citada acima foi um sopro. Um sopro que me fez escancarar as janelas da sala, limpar a casa e entender que a melhor forma de passar pelo mundo, seja ele com coronavírus ou não, é deixando um pouco de você por onde for. Eu já vejo um pouco de mim no meu mini-escritório e no banheiro. Vejo um pouco de mim no meu novo eu, esse que está completamente apaixonado pelo sofá da sala de estar. Um sofá perfeito para aquele casal da Vila Madalena se entender e seguir a vida.

Sigo completamente apaixonado pelo look de tule vermelho da cantora supercool.

Já tenho algo para o show/banho de amanhã.

Felipe Miranda

Felipe Miranda

Sou redator, produtor de conteúdo, freelancer 24h e quase jornalista. Não consigo ficar quieto. Criei o OMD aos 15 anos e de lá para cá já vivi um mundo inteiro de histórias malucas (sem nem sair de casa).

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