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Com protagonista embuste, livro “Uma Coisa Absolutamente Fantástica”, de Hank Green, discute fama e tecnologia

Publicado em 30 abr, 2019

Uma Coisa Absolutamente Fantástica – Hank Green

ISBN-10: 8555340756

Ano: 2018 / Páginas: 344

Editora: Seguinte

Classificação: 

Enquanto volta para casa depois de trabalhar até de madrugada, a jovem April May esbarra numa escultura gigante. Impressionada com sua aparência — uma espécie de robô de três metros de altura —, April chama seu amigo Andy para gravar um vídeo sobre a aparição e postar no YouTube. No dia seguinte, a garota acorda e descobre que há esculturas idênticas em dezenas de cidades pelo mundo, sem que ninguém saiba como foram parar lá. Por ter sido o primeiro registro, o vídeo de April viraliza e ela se vê sob os holofotes da mídia mundial. Agora, April terá de lidar com os impactos da fama em seus relacionamentos, em sua segurança, e em sua própria identidade. Tudo isso enquanto tenta descobrir o que são essas esculturas — e o que querem de nós.

Infelizmente, a obra de estreia de Hank Green (sim, o irmão do John Green) me colocou numa ressaca literária assustadora. Escolhi “Uma Coisa Absolutamente Fantástica” para ser o primeiro livro do ano e, cá estou, o resenhando quatro meses depois do início de tudo. Felizmente investi em outras leituras nas últimas semanas e consegui seguir em frente com uma das experiências literárias mais dúbias que tive na vida. Ao mesmo tempo em que admiro a abordagem científica presente no enredo, estou muito certo de que encontrei a protagonista mais embuste de todos os tempos. Obrigado, Hank!

É de imaginar a probabilidade de alguém que, supostamente, está tendo um contato com uma vida extraterrestre, tornar-se uma celebridade da noite para o dia, certo? E quando esse alguém é uma adolescente que resolve transformar o ocorrido em uma fonte de autodivulgação, pronto. Temos um viral!

April May esbarrou com uma estátua gigante na volta do seu entediante trabalho e viu que um robô no meio de Nova York poderia significar algo. Ao gravar um vídeo para a internet com seu amigo Andy, ela se torna a pessoa que deu o pontapé inicial em um mistério pronto para mudar o mundo. Envolto de enigmas e propriedades inimagináveis até para a ciência, o agora intitulado Carl é apontado como um alienígena tentando contato com a raça humana. Quando outros 64 Carls aparecem em cidades de todo o globo, a mídia internacional se volta para a criatura que não se mexe, não pode ser movida e, ao que tudo indica, nem destruída. Seria ela parte de algo vindo além da Terra?

Motivos para ler o livro: o Carl é realmente muito interessante. Uma série de acontecimentos online mobiliza milhares de pessoas dispostas a descobrir sua origem, seus poderes e seu real objetivo por aqui. Quando um sonho passa a ser comum a todas essas pessoas, uma missão se estabelece, envolvendo até governos. É preciso reunir peças de um quebra-cabeça, presentes apenas nesses sonhos, para formar uma chave. Uma senha. Um código capaz de despertar os robôs do atual transe em que se encontram. Duas comunidades se criam: uma pró e outra contra. Enquanto uma acredita na pacificidade do contato alienígena, outra acredita no risco e perigo que esses seres representam para a sociedade no geral. É bem gostoso acompanhar os debates e os desafios que surgem.

Motivos para não investir na leitura: April May está no meio disso tudo. Ela descobriu os Carls e eles a protegem. A escolheram como mensageira. Ela é privilegiada e se torna a porta-voz oficial do fenômeno. Por quais motivos a odiei tanto? Ela se transforma numa influenciadora da noite para o dia e precisa lidar com o ódio das pessoas. Isso eu entendi, captei a carga emocional necessária para relevar comentários maldosos e sentenças de morte, mas não consegui abstrair o tratamento que ela emprega para as pessoas que a amam e estão com ela nessa jornada, ali bem próximas e não do outro lado da tela. Os personagens secundários são responsáveis pelo meu não-abandono desse livro.

Andy é o filmmaker e roteirista dos vídeos, sempre cauteloso e pé atrás. Miranda é a cientista, estudiosa que tem voz quando o assunto é explicar fórmulas, teorias e cálculos necessários para entender a composição dos Carls e os métodos necessários para dar o próximo passo. Maya é a maior injustiçada de toda a história. Era a garota que April dividia o apartamento antes de morar num andar inteiro ao lado de Carl. Maya é a quase-namorada de April, totalmente renegada, ignorada e destratada. Eu fiquei em pedaços todas as vezes que April optou por ser fria gratuitamente com alguém que em momento algum quis ser mais que o ombro amigo que ela sempre precisou. E precisou até os últimos capítulos.

Não se enganem, a trama não é um romance, não é sobre amizade, é sobre uma garota egoísta, lidando com a repentina fama e suas peculiaridades. É sobre o quão estamos dependentes da internet e como escolhemos ídolos tão frágeis quanto nós. É sobre algo fantástico acontecendo, envolvendo milhões de pessoas e ninguém estando apto para lidar com a bagunça. É sobre dinheiro, negócios e acreditar no que ninguém mais bota fé. É sobre querer ser alguém, provar-se digno de confiança e chorar com medo do dia seguinte. A história é narrada em primeira pessoa pela April e talvez isso sobrecarregue o leitor, caso ele se identifique com minha antipatia pela garota.

As discussões levantadas a cerca de todos os acontecimentos são muito importantes. Válidas de verdade. O fato de April ser chata e não despertar empatia é, bem provável, uma construção proposital do autor. Uma espécie de lembrete sobre como ninguém sabe o que o outro passa internamente. Ninguém sabe dos bastidores de algo mísero (ou nem tanto no contexto atual) como um tweet. O desconhecido que significa o Carl e todo o despreparo para encarar o que ele representa é tão real, tão próximo do que vemos no noticiário. Se algo assim acontecesse de verdade não me assustaria se o livro de Hank Green fosse profético.

Para mim, apesar de tudo, a leitura não foi prazerosa por existir uma repetição maçante. Há ciclos e ciclos de pensamentos, atitudes e até reviravoltas mesmo, que não caminham para lugar nenhum. Apenas reforçam o ranço pela protagonista. O desfecho é surpreendente, mas não me dá vontade de ler uma sequência – que com certeza existirá. Estar em sociedade às vezes requer um estado de espírito radical. Um radicalismo que os outros ao nosso redor não estarão preparados.

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