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“A Essência do Mal” assusta com narrativa investigativa e atmosfera sombria

Publicado em 04 nov, 2018

A Essência do Mal – Luca D’Andrea
ISBN-13: 9788551002612
Ano: 2018 / Páginas: 368
Editora: Intrínseca
Classificação: 

Um lugar amaldiçoado. Um caso abandonado. Um assassino que não deixa rastros. Jeremiah Salinger ganha a vida fazendo documentários, até que se muda com a família para uma região remota da Itália. Lá, após um acidente com o helicóptero em que está fazendo uma filmagem, passa a ser atormentado pela ideia de que existe nas montanhas ao redor uma força que não consegue entender e a que chama de A Besta. Anos depois, em um passeio com a filha no Bletterbach — um desfiladeiro com toneladas de fósseis —, Jeremiah escuta uma conversa que lhe dá um novo foco na vida. Em 1985, três jovens foram mortos ali, e seus corpos, desmembrados por um assassino que nunca foi descoberto. Para solucionar o mistério, que marcou uma cidade inteira por décadas, Jeremiah mergulha em um quebra-cabeça macabro e fascinante.

Não quero imaginar o tanto de gente que desistiu desse livro ao perceber que ele não traria uma história de terror. Pelo menos nenhuma dessas que nossa mente imagina de imediato ao ver o título e a capa da obra de Luca D’Andrea. Eu gostaria de trocar algumas palavras com todos que chegaram a esse ponto. É que no fim das contas, quando eu abandonei minhas inocentes expectativas, as  363 páginas dessa aventura gelada se tornaram um deleite. É, de longe, um dos trabalhos mais bem escritos que já tive o prazer de conhecer. Tudo que um livro precisa para ser completo: personagens cativantes, desenvolvimento sólido, narrativa crescente e questões filosofais sobre vida e morte. Eu não poderia querer pedir mais.

Jeremiah Sallinger é um documentarista de sucesso. Depois de “Road Crew”, uma série onde ele acompanhou os bastidores de grandes turnês musicais mundo afora, ganhar várias temporadas e lucrar milhões de dólares, o cara decide tirar umas férias e curtir um tempo com a família. É quando ele parte para a terra natal de sua esposa Annelise, a pacata Siebenboch, nas Dolomitas – uma cadeia de montanhas dos Alpes orientais no Norte da Itália. É bom ter esse cenário em mente:

A grandiosidade, perigo e solidão desse ambiente só fica claramente evidente quando nosso protagonista não consegue deixar de lado seu espírito profissional e resolve gravar um documentário sobre o Socorro Alpino das Dolomitas – uma equipe de resgate e apoio aos turistas e locais que se aventuram nas montanhas cobertas de neve. Aliás, o turismo é a principal fonte de renda da cidadezinha. Como não vale a pena dar spoilers e descobrir com os próprios olhos é muito mais gostoso, vale dizer que Jeremiah sofre um acidente traumático nesse processo de captação de imagens e acompanhamento do trabalho dos socorristas. Afirmar que um helicóptero resgatando pessoas feridas no meio de montes de neve escorregadios pode ser fatal é redundante?

Após ser o único a sobreviver a uma catástrofe que muda a visão de todos na cidade, Jeremiah desenvolve Transtorno do Estresse Pós-traumático. O tom sobrenatural do enrendo fica a cargo de uma presença muito forte e precariamente explicada desde os primeiros capítulos. Pode-se dizer que uma névoa paira sobre tudo que é lido. Uma sensação de medo, de que algo está prestes a acontecer a qualquer momento. É como se o medo não fosse algo individual de ninguém nessa história, mas algo coletivo que afetasse a todos. Todos estão sujeitos a esse mal que é nomeado de A Besta. E a besta é a voz na cabeça de Jeremiah, é o vento que sopra entre os galhos das árvores e nas montanhas, é o que ninguém ousa dizer em voz alta em Siebenboch. É a obsessão que fisga todos os que já ouviram falar numa história que aconteceu em 29 de abril de 1985.

Aquela voz. E o cheiro dela. O cheiro da Besta. Um cheiro metálico, que deixava uma camada de insensibilidade na minha boca. Um cheiro antigo. Antigo a ponto de revirar o estômago. Porque a Besta era antiga. Tão antiga que… finalmente gritei.

Chegamos à grande linha condutiva de A Essência do Mal. Com sua mente em fragalhos após o acidente que quase tirou a sua vida, Jeremiah pede para que Mike termine o trabalho de edição do documentário sobre o Socorro Alpino das Dolomitas. Enquanto se dedica à sua rotina de pai e marido, ele acaba ouvindo histórias do passado. Acontecimentos que marcaram todos os habitantes da cidade: um brutal assassinato envolvendo três jovens. Evi, Kurt e Markus foram encontrados desmembrados nas montanhas e nenhum culpado fora encontrado desde então. Há quase 30 anos a não resolução desse crime assombra os moradores da região.

Como um bom contador de histórias que é, Jeremiah se vê obrigado a descobrir todos os míseros detalhes desse episódio sádico. Ele garante que não quer transformar nada do que descobrir em vídeo, mas até eu como leitor não acreditei. É quando tudo foge do controle, sabe? Ele negligencia a família e os remédios que toma. Passa a frequentar todos os becos e vielas para ouvir alguém disposto a contar o que lembra e sabe do fatídico dia em que uma tempestade assolou o vilarejo. Como se Deus tivesse esquecido daquele pedaço de chão por algumas horas.

O único ponto negativo dessa trama (que é impossível negar), é o fato de algumas descrições serem desnecessárias. O ritmo se quebra e se torna lento em alguns momentos. O livro poderia ser menor, mas acredito que o autor quis explorar todos os ângulos e fontes possíveis para Jeremiah solucionar sua sede por informações. Chega a ser irritante como ele se arrisca para descobrir o que não está sendo dito. Tudo se torna mais gostoso de acompanhar quando pequenos acontecimentos ruins sugerem que A Besta está interferindo nas investigações. É um legítimo jogo psicológico. O mal, no fim das contas, não ganha forma nenhuma.

É sempre assim. No gelo, primeiro se ouve a voz da Besta, depois se morre. Blocos de gelo e abismos idênticos àquele em que eu me encontrava estavam cheios de alpinistas e escaladores que tinham perdido as forças, a razão e por fim a vida por culpa daquela voz. Parte da minha mente, a parte animal que conhecia o terror – porque no terror vivera por milhões de anos – compreendia o que a Besta estava sibilando. Oito letras:
– Vá embora.

É uma delícia acompanhar o relacionamento de Jeremiah com a pequena Clara, os costumes e tradições macabros do vilarejo e os depoimentos de todos os entrevistados. Não me ative a nomes, mas um dos personagens mais importantes dessa história é Werner, pai de Annelise – integrante do Socorro Alpino e que também fez parte do grupo de homens que encontrou os três jovens mortos nas montanhas. Tudo se conecta, faz sentido e assusta do meio para o fim. Sigo em êxtase e ansioso por uma adaptação cinematográfica. É uma daquelas histórias que vai exigir muito da nossa imaginação para funcionar.

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1 Comentário

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