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QUANDO FIZ UM ENSAIO NU

Publicado em 12 maio, 2016

Eu lembro como se fosse ontem o dia em que cheguei na escola, época de ensino fundamental ainda, e recebi a notícia de que meu melhor amigo havia sido morto. E não tem sensação mais aterrorizante do que essa: a de você não saber o que fazer. Literalmente. Não é como esquecer o aniversário de alguém querido ou ser assaltado mais uma vez. Não é algo que te deixe sem chão por um tempo e depois passe. É algo que marca você para sempre. Você perdeu. E perder ainda é uma droga. Não há otimismo aqui. Foi uma bala perdida que o levou e até hoje eu imagino como minha vida seria se ele ainda fosse alguém que eu tivesse aqui comigo. É tão assustador parar e pensar no tanto de coisa que poderia ser diferente se alguém sumisse ou nunca tivesse existido em toda a sua caminhada até aqui. Em toda a minha caminhada até esses 22 anos de meu deus.

Isso me veio à cabeça por um trabalho da faculdade. Estou oficialmente de férias e meu último esforço foi apresentar uma criação estética. Fiz um ensaio fotográfico nu com a ajuda de uma amiga e nele criticamos os modernos relacionamentos, esses que nos levam a uma mesa de bar com um mundaréu de gente para nos sentirmos sozinhos. É péssimo estar com alguém que interaja mais com quem está do outro lado da tela do celular do que com você, que está ali, tão perto. Coxa com coxa. Querendo um olho no olho. No registro que produzimos tiramos um casal do caos urbano e os levamos para um paraíso à beira-mar. Lá na praia do Francês, onde eles deveriam perceber a natureza e dividi-la como pessoas que estão livres, os celulares foram a principal atração.

O que eu quero dizer é que ando valorizando as pessoas desde o dia em que perdi uma. Desde a tarde em que eu senti que a gente não é muita coisa além de poeira. Poxa, nem 13 anos eu tinha. No fundo da minha consciência eu sei o quanto já estive com um celular em mãos enquanto conversava com alguém, mas também sei que isso nunca me impediu de estar presente de verdade. De tentar dizer a coisa certa, de ouvir com o coração e guardar o aparelho para dar um abraço. Juro. E eu digo isso porque não tem nada melhor que demonstrar interesse no outro. No que o outro diz e não diz. Sabe aquele silêncio, o segundo que parece não querer ser preenchido com palavra, selfie ou publicação alguma? É uma brecha. Uma desculpa para um abraço e um beijo. Eu adoraria que todas as desculpas fosse assim. Sem arrependimentos embutidos.

Não gosto de lembrar do dia em que pedi desculpa a deus por não ter estado mais presente na vida do meu melhor amigo. Não gosto. Eu não pude me despedir. Se é que existe alguma forma de fazer isso certo. Naquela época a internet não era o que é hoje, mas a força que ela tem agora não substitui absolutamente nada que eu possa fazer sentindo o cheiro. Não gosto de quando falta o tato.

Felipe Miranda

Felipe Miranda

Sou redator, produtor de conteúdo, freelancer 24h e quase jornalista. Não consigo ficar quieto. Criei o OMD aos 15 anos e de lá para cá já vivi um mundo inteiro de histórias malucas (sem nem sair de casa).

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1 Comentário

  • thaila oliveira
    12 maio, 2016

    realmente é triste Felipe! perder quem se ama é doloroso e aflitante, uma angustia diária
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/