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Livraria Martins Fontes

[Resenha] Kaputt – Curzio Malaparte

Publicado em 05 jan, 2015
Kaputt – Curzio Malaparte 
(Graphic Novel)
Ilustrações: Eloar Guazzelli

Editora: WMF Martins Fontes
Ano: 2014
Páginas: 184

Classificação: 

Misto de reportagem e ficção, Kaputt foi escrito secretamente quando Curzio Malaparte cobria a Segunda Guerra Mundial como enviado do jornal Corriere della Sera e se tornou um best-seller ao ser publicado. Relatando jantares e conversas com o lado inimigo, Malaparte apresenta um retrato devastador da Humanidade. Eloar Guazzelli sempre sonhou em adaptar a obra de Malaparte para os quadrinhos. Sua leitura de Kaputt é avassaladora.

 

Publicada pela editora WMF Martins Fontes em novembro de 2014, a graphic novel “Kaputt” é um recorte do sucesso literário de mesmo nome lançado originalmente em 1944. Não se trata de uma representação completa do livro, mas sim de uma adaptação. Uma escolha pessoal e delicada feita pelo quadrinista e ilustrador gaúcho Eloar Guazzeli. Ele selecionou partes da história para expressar em traços grossos e firmes o horror de um dos períodos mais terríveis e marcantes da história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial.

Dividido em seis partes (“Cavalos”, “Ratos”, “Pássaros”, “Cães”, “Renas” e “Moscas”), o livro reúne relatos do diplomata, militar, cineasta e jornalista italiano Curzio Malaparte (1898-1957) durante o regime nazista no período em que foi correspondente do jornal italiano Corriere della Sera. Transitando por cenários sórdidos, devastados pela guerra e apodrecidos por restos mortais, ele observa e descreve as barbáries cometidas pelos soldados russos e alemães – a morte de prisioneiros transformados em animais e a morte de animais transformados em prisioneiros.

O homem de Kaputt é uma fera solitária. A fera “culta”, representada pela elite alemã, tem medo dos velhos e das crianças. Tem medo dos indefesos. Tem medo de ter medo. Malaparte afirma que os alemães amavam a dor e a destruição por receio. Medo de sofrer. O ser diferente era assustador para eles. Assustador mesmo é ler sobre centenas de soldados descarregando fuzis em crianças e animais. É doloroso e devastador acompanhar essas atrocidades com a certeza de que elas realmente aconteceram. Não é uma ficção. O cheiro doce de ferrugem e gasolina que tanto é mencionado chega a incomodar.Malaparte cobriu as frentes lestes das forças de combate (Ucrânia, Polônia e Finlândia) e esteve nas ruas, em meio a combates e chacinas, mas, também, presenciou jantares com generais da alta patente, aristocratas e reis nazistas. É difícil dizer quais momentos são mais desconfortáveis: soldados fuzilando pessoas como se elas fossem insetos indesejáveis ou governantes discutindo o extermínio de inocentes em prol de uma “civilização perfeita”.

Há três cenas bizarras que chamam atenção. A primeira relata centenas de cavalos se agrupando dentro um lago para se proteger do fogo até que a água congela. A descrição acompanhada das ilustrações fantasmagóricas de Guazzelli são dolorosas. A segunda é sobre a morte por asfixia de dois mil judeus em vagões de trens. “Os mortos são raivosos, obstinados, ferozes… Birrentos, vaidosos, os mortos são doidos. Não tem tampouco medo da morte.”

A terceira ilustra uma batalha entre cães russos carregados de mochilas com explosivos contra soldados alemães armados. “Quando na Rússia não houver mais cães… Os meninos russos vão meter-se debaixo dos tanques de vocês. Ach, são todos da mesma raça. Todos filhos de cães.”

O ódio à vida que esse período da História pregou é vergonhoso, sofrido e fede mais do que todos os mortos em decomposição encontrados em valas e nas páginas dessa terrificante graphic novel. Fazendo jus à tradução do alemão, “Kaputt” se refere a alguma coisa que foi quebrada, acabada, despedaçada. Entre tantas obras sobre a Segunda Guerra, essa é de longe a mais visceral.

A obra original “Kaputt” já teve cinco edições traduzidas para o português, mas está esgotada no país. A edição mais recente é de 2000 (editora Bertrand).

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