Rose na tempestade – Jon Katz
Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788581632834
Ano: 2013
Páginas: 240
Classificação:
Página do livro no Skoob
No meio de uma terrível nevasca, a cadelinha Rose insiste em dar conta de seu trabalho como pastora enquanto nos deixa a par de suas curiosas reflexões: onde está Katie, que ela nunca mais viu, embora seja capaz de sentir sua presença em todo lugar? Quem será aquele cachorro selvagem que parece seu amigo? Por que Carol, a mula, fica parada mesmo debaixo de toda a neve que cai? E onde foi parar Sam, que sumiu depois daquele barulho todo? Mas Rose não tem muito tempo para suas reflexões divertidas — e às vezes bem corretas. Agora ela deve voltar sua atenção para uma coisa muito mais séria: correr atrás de Sam, tentar encontrá-lo e, quem sabe, salvá-lo. No entanto, alguns perigos podem ser intransponíveis para uma cachorrinha…
Resenha:
Talvez o ponto mais forte de toda a estória seja o fato da narrativa em terceira pessoa pertencer à uma cadela e um ser humano. É divertido, delicado e inusitado. Eu diria até que Jon Katz é um gênio por descrever tão convincentemente as reflexões e conclusões que a cadelinha pastora Rose chega a formular em sua cabecinha tão esperta. Não que ela entenda o que seu dono Sam fale, mas ela reage a tons de voz e gestos. Ela o compreende.
A característica mais notável em Rose é sua determinação, ela não tem tempo para carinhos, não gosta que ninguém a toque. Em sua mente ela constrói um mapa que permite saber onde cada coisa se localiza e funciona. Quando algo sai do lugar ou está errado ela é a primeira a perceber, e com ou sem a ajuda de Sam ela resolve à sua maneira. Rose é um misto de cão pastor com border collie e servir aos humanos é seu maior prazer, ela é leal, responsável e absurdamente corajosa. Admirada por fazendeiros da região, sempre é chamada para trabalhos extras que realiza com louvor demonstrando seu valor. Nunca fugira, recuara ou deixara de fazer seu trabalho. E acreditem, sempre há trabalho a ser feito na fazenda, a lista de dificuldades que já enfrentaram é enorme, gansos agressivos, carneiros reprodutores desenfreados, vacas em fuga, raposas e coiotes invasores, gatos selvagens ferozes, guaxinins raivosos… Rose sempre bolara um plano. Há animais que apenas a ignoram, são aqueles que não precisam de sua supervisão ou não estão sujeitas à sua autoridade, como as gatas Eve e Jane e o antigo galo Winston. Os demais a respeitam e funcionam aos seus olhares penetrantes e comandos latidos. Rose ajuda os animais no esforço de manter as delicadas tarefas internas da fazenda em andamento.
Seu dono Sam sente-se perdido e confuso. Após a morte de sua esposa Katie, um pedaço de si morrera junto, ele perdera a família que esperava ter e não sabia se encontraria isso novamente algum dia. Ele não dispõe da mesma energia que antes, não está seguro em recomeçar tudo novamente. Sem Katie, sem planos. As dificuldades da fazenda podem ser extenuantes, as responsabilidades de administrá-la sozinho são desgastantes e Sam precisar livrar-se dessa pena que sente de si mesmo. Dessa barreira que não o permite ir em frente.
E entre tantos problemas já comuns na rotina de uma fazenda, a tempestade não prevista até pelos meteorologistas vem para agravar ainda mais a situação. A nevasca longa e rigorosa testará instintos e trará perigos inéditos e outros já conhecidos se intensificarão. Os animais da fazenda estão entrando em pânico enclausurados em celeiros e galpões, mas sem dúvidas não resistiriam ao frio descampados lá fora. A água está congelada, a comida acabando e um covil de coiotes está prestes a invadir e atacar a fim de garantir sua sobrevivência. Rose tinha seu trabalho, mas comida era o trabalho dos demais ali. Sam e Rose correm perigo, eles não podem perder a fazenda mas precisam colocar suas vidas em primeiro plano… Vocês se surpreenderão com a quantidade de pequenos e grandes problemas que surgem em uma situação como essa.
É quase impossível não se cativar pela estória, caso você não goste de animais talvez ache enfadonho, mas é lindo ver a bravura de Rose e seus esforços para manter a fazenda funcionando e os animais vivos. O relacionamento da pastora com Sam é tocante, eles se respeitam e se amam de um modo único que apenas os animais podem proporcionar. Algo que me tocou bastante durante a trama foi o fato de Rose não ter visto Katie ser lavada após morrer, e como a cadela se guia por cheiros também, ela passa o enrendo todo a procura de sua dona, relembrando os momentos que passavam juntas e sentindo sua falta. É triste e deixa a estória mais emocionante. Rose não teme a morte, ela está acostumada a perdas e isso talvez explique a sua impulsividade em defender a qualquer custo os animais diante de qualquer perigo fatal. Um cachorro selvagem que se aproxima e passa a fazer parte da fazenda esconde segredos e laços com a destemida Rose… A leitura é mais que recomendada!
“O dono que ela conhecia, cuja rotina e cujos comandos definiam cada dia de sua vida, parecia ter sido soprado para longe pela tempestade, levando a vida previsível e definida que ela conhecia.” Trecho da página 125
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