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[Resenha] A menina que fazia nevar – Grace McCleen

Publicado em 08 jan, 2014

A menina que fazia nevar – Grace McCleen
Editora: Paralela
ISBN: 9788565530217
Ano: 2013
Páginas: 312
Classificação: 
Página do livro no Skoob

Todos os dias se parecem na vida que Judith McPherson leva ao lado do pai. Eles têm uma rotina simples e reclusa, numa casa repleta de lembranças da mãe que ela nunca conheceu, e as únicas pessoas com quem convivem são os fiéis da igreja cristã a que pertencem. Judith não tem amigos na escola, onde é alvo de gozações, e para encontrar consolo se refugia no mundo de sucata que construiu em seu quarto. Lá, cada dia é um dia, e a vida pode ser incrivelmente feliz graças a sua imaginação. Basta acreditar que a Terra Gloriosa, como ela chama sua maquete, é realmente o paraíso prometido onde um dia vai viver ao lado da mãe. Aos dez anos, Judith vê o mundo com os olhos da fé, e onde os outros veem mero lixo, ela identifica sinais divinos e uma possibilidade de criar. Assim, constrói bonecos de pano e inventa para eles histórias felizes na Terra Gloriosa. O que nem Judith poderia imaginar é que talvez seu brinquedo seja mais do que uma simples maquete. Pelo menos é o que parece quando ela cobre a Terra Gloriosa de espuma de barbear e a cidade aparece coberta de neve na manhã seguinte. Um pequeno milagre, é assim que ela interpreta esse e outros sinais parecidos. Tão pequeno que muitas pessoas poderiam pensar que não passa de coincidência, mas Judith sabe que milagres nem sempre são grandes, e que reconhecê-los é um dom de poucas pessoas. Longe de ser benéfico, no entanto, esse poder traz consigo uma grande responsabilidade. Afinal, seria certo usar a Terra Gloriosa para se vingar de Neil Lewis, o colega que a maltrata todos os dias na escola?

Resenha:
O pai da pequena Judith afirma que é apenas uma questão de tempo até alguém explodir o mundo inteiro e o dinheiro passar a não ter tanto valor. Sua fé o faz acreditar que o Armagedom está próximo e tempos de paz e justiça virão em breve. Desde que casara-se, ele e sua, agora, falecida esposa dedicaram-se a religião e construíram um Salão de Encontros, onde uma minoria de Irmãos pregam a palavra de Deus com a missão de levar seus ensinamentos enquanto aguardam os Últimos Dias. As pessoas que integram a Congregação são todos os amigos que Judith possui e apesar do fanatismo religioso que permeia sua casa, ela nunca deixou de questionar e tentar entender melhor os milagres e a própria fé. O modo com a vida funciona.
Em seu quarto Judith construiu  uma representação da Terra Gloriosa, com sucata, tampinhas, barbantes, lã, massinha de modelar, sucata e tudo que encontra por aí ela cultiva uma maquete que funciona como um refúgio. Um lugar sem guerras, mortes, penúrias, fome ou qualquer sofrimento, assim como ela acredita que será o mundo quando encontrar-se com a mãe após o fim dos tempos. Sua rotina não altera-se e ela acredita que o pai não a ama. Seus argumentos são bem convincentes e durante boa parte do livro o pai de Judith só reforça suas ideias. Ele é frio, distante e de poucas palavras. O desfalque que uma mãe e esposa faz em um lar pode ser desolador.
“Eu sei como é a fé. O mundo no meu quarto é feito dela. Com fé bordei as nuvens. Com fé recortei a lua e as estrelas. Com fé colei tudo junto e fiz todas essas coisas cantarolando. Porque a fé é igual à imaginação. Ela vê uma coisa onde não há nada, dá um salto e de repente você está voando.” Trecho da página 37
Ate que Judith é ameaçada de morte. Na verdade, Neil Lewis, que estuda na mesma classe que ela, prometeu enfiar a cabeça da garota na privada. Por ter apenas 10 anos de idade ela encara isso de uma forma tão séria que acredita não sobreviver a tal coisa. Resultado, acredito eu, da falta de diálogo e amor com o pai, sua ingenuidade é o reflexo disso. Contar ao pai ou aos professores não é visto como uma saída. Ao ouvir o discurso de um pastor convidado sobre mover montanhas ela sente-se tocada e entende que só precisa de um pouco mais de fé para enfrentar seus medos. E então ocorre um milagre… Ao cobrir sua maquete de espuma de barbear ela faz nevar no mundo real. Sem ninguém para conversar ela passa a conversar com Deus, até o dia que consegue ouvi-lo. De verdade. Judith passa a operar uma série de milagres que ninguém é capaz de crer. Ela enxerga nesse dom uma chance de escapar das garras de Neil Lewis. Talvez não da forma mais correta que exista… e isso trará consequências. Ponderando sobre vários aspectos ela aprenderá várias lições importantes, ter poder não é tão fácil como parece, e compreenderá que as ações de Deus são muitas vezes inexplicáveis. As coisas desaparecem e reaparecem em outro lugar. Pensar pode ser perigoso até nos melhores momentos…
“Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. – Deus disse”. Trecho da página 156

Quis abandonar essa leitura pela falsa impressão que tive nos primeiros capítulos. (Ainda bem que não costumo agir assim). Achei que o livro fosse seguir caminhos puramente religiosos e, definitivamente textos assim não me prendem. Creio em Deus e tenho a minha fé mas não acho interessante quando a estória começa a citar passagens bíblicas e acaba se tornando uma aula. Não que não haja ensinamentos válidos em livros, claro que existem, mas o quão vai ser prazeroso absorver isso é algo diferente a ser levado em consideração. Entendem o meu ponto? No decorrer dos capítulos a autora me fisgou de uma forma que me vi perplexo com as situações do enredo. Apesar do embasamento religioso, a autora não só destacou o valor e o poder da fé, como também chamou atenção para o fanatismo que cega tantas pessoas. As mensagens são passadas em forma de metáforas e singelos detalhes que tornam-se tocantes pela narração de Judith e sua percepção de mundo. Sua imaginação é tão fértil que uma voz imaginária passa a guiá-la. Ela sente-se sozinha, sem amigos e sofrendo bullying. Judith sente-se culpada pela morte da própria mãe que faleceu no parto pois sua religião não permitia transfusão de sangue. Percebem o quanto uma crença sem limites pode ser ruim? Sem falar nas pressão que recai sobre seus ombros ao ver um pai afundando-se em sí mesmo. Poxa, a garota tem apenas 10 anos!
Com os milagres acontecendo, Judith transformará não só sua vida como também a do seu pai e de todos ao seu redor. E preciso dizer que não serão mudanças boas. Seu pai enfrentará não só a falta da falecida esposa como também problemas no trabalho. Neil Lewis e seus amigos passarão a atormentar Judith e sua família, uma perseguição tão incômoda que fará um homem perder sua fé. Tão perversa que fará uma garotinha desejar nunca ter ouvido a palavra de Deus. Tão intensa que me fez querer interferir pessoalmente no rumo que a estória estava levando. O desfecho destroçou meu coração e firmou essa estória como uma das melhores leituras do ano. É fantástica.
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5 Comentários

  • GonçalvesSue
    03 fevereiro, 2014

    Não costumo ficar lendo livro sobre fé, porque na maioria das vezes me deixam angustiada. Eu tenho uma percepção simplificada do que é a fé, pois acho que cada um tem sua visão.. Mas gostei da sua resenha é me deu vontade de ler esse livro..

  • Ariana Oliveira Gomes
    11 janeiro, 2014

    Não sei se teria interesse em ler este livro. Acredito que odiaria os mesmos motivos que te fez amar, será que fui clara?
    Não gosto de livros religiosos, nem os que incentiva a detestá-las ou que mostram que ela (a religião) é tão somente destrutiva. Não acredito nisso, apesar de não ter uma. kkkkkkk… Tá sei que meu discurso da um pouco contraditório, mas acredito que o livro é reflexo disso.
    Bjs e vou parar por aqui antes de me enrolar mais ainda… kkkkkkkk…

  • Fernando Gonçalves
    10 janeiro, 2014

    Já vi algumas resenhas à respeito desse livro, porém não morro de interesse como em muitos outros livros, mas eu leria, com certeza, é só aparecer a oportunidade : )

  • Larissa
    08 janeiro, 2014

    Caramba eu lembro que vi o book trailer e me apaixonei, mas até agora não tive a oportunidade, a resenha me conquistou, com toda a certeza vou ler

  • Natália Alves
    08 janeiro, 2014

    Confesso que hesito na leitura desse livro pelo mesmo motivo que você pensou em abandoná-lo nas primeiras páginas, mas sua resenha acabou de me convencer a dar uma chance a esse livro. Já sinto certa compaixão por Judith antes mesmo de conhecê-la. Adorei a resenha!

    Beijo,
    Naty.