O caçador de pipas – Khaled Hosseini
Editora: Nova Fronteira
ISBN: 9788520920343
Ano: 2005
Páginas: 368
Classificação:
Página do livro no Skoob
O caçador de pipas é considerado um dos maiores sucessos da literatura mundial dos últimos tempos. Este romance conta a história da amizade de Amir e Hassan, dois meninos quase da mesma idade, que vivem vidas muito diferentes no Afeganistão da década de 1970. Amir é rico e bem-nascido, um pouco covarde, e sempre em busca da aprovação de seu próprio pai. Hassan, que não sabe ler nem escrever, é conhecido por coragem e bondade. Os dois, no entanto, são loucos por histórias antigas de grandes guerreiros, filmes de caubói americanos e pipas. E é justamente durante um campeonato de pipas, no inverno de 1975, que Hassan dá a Amir a chance de ser um grande homem, mas ele não enxerga sua redenção. Após desperdiçar a última chance, Amir vai para os Estados Unidos, fugindo da invasão soviética ao Afeganistão, mas vinte anos depois Hassan e a pipa azul o fazem voltar à sua terra natal para acertar contas com o passado.
O cenário escolhido por Hosseini para ambientar sua estória foi o Afeganistão. Considerado o país mais perigoso do mundo devido seus longos e constantes períodos de guerra, o autor escreve sobre companheirismo e fidelidade, honra e amor.A mãe de Hassan fugiu uma semana após dar a luz, já a de Amir não resistiu a uma hemorragia durante o parto. Os dois mamaram do mesmo peito, deram os primeiros passos na mesma grama do mesmo quintal e sob o mesmo teto disseram as primeiras palavras. Apesar de viverem boa parte da infância juntos, Amir não pensa em Hassan como um amigo, talvez pelas diferenças étnicas e religiosas, mas ele não pode fazer nada em relação a isso. Hassan é um Hazara, um povo de origem mongol considerado de uma casta inferior aos Pachtuns, a qual Amir pertencia. O que torna o livro mais interessante é justamente essa apresentação de toda a cultura afegã, todos os hábitos cultivados pelo povo, as festas, os costumes, as comidas, a organização política, e principalmente o vocabulário, são muitas expressões desconhecidas.
Hassan era incapaz de machucar quem quer que fosse, apesar de sofrer comentários maldosos pela sua aparência, ele é puro e fiel, um personagem tão bem construído que alguns momentos eu só queria abraça-lo. Ele era analfabeto como todos os Hazaras, e entre tantas coisas que faziam juntos, Amir lia para Hassan, sempre com brincadeiras um tanto que maldosas mas foi em uma dessas que Hassan despertou em Amir a vontade de escrever. E era sempre assim, enquanto Hassan era inteiramente fiel e bondoso, Amir era covarde e ciumento, suas mentiras envenenavam a vida de todos ao seu redor. É inacreditável a sucessão de reviravoltas que acontecem a partir das maldades “fundamentadas” de Amir.
Talvez um dos pontos que me fez simpatizar com ele fora o fato de seu pai ser frio e distante, os livros funcionam como um refúgio para a culpa de Amir, ele sente que seu pai o responsabiliza por ter matado a mãe. Meio revoltante essa situação, enquanto um filho venera o pai quase que religiosamente, o pai não dá valor ao filho e chega a considera-lo uma decepção por não corresponder as suas expectativas. Essa e várias situações me tiraram do sério, a principal aconteceu durante o campeonato de pipas, uma velha tradição do inverno no Afeganistão, onde o torneio só acaba quando uma única pipa vencedora estiver voando no céu.
O auge do livro acontece aqui, o ponto central, onde a vida de nossos personagens mudam, Amir opta por ser um covarde afim de conquistar seu pai e trai a confiança de Hassan, justamente ele, que repetira tantas vezes que faria aquilo mil vezes se fosse preciso. Hassan passa a circular pelas beiradas de sua vida e o abismo entre Amir e seu baba está retornando. A guerra no país está dando seus primeiros passos e uma série de tragédias me fez ficar perplexo a cada capítulo.Foi demais pro meu coração apertado e foi apenas o começo.
“Talvez Hassan fosse o preço que eu tinha que pagar, o cordeiro que tinha de sacrificar, para conquistar baba. Era um preço justo? A resposta ficou pairando na minha mente consciente até eu conseguir reprimi-la: ele era apenas um azara, não era?” Trecho da página 83
Se tratando de um romance realístico, as tristezas e devastações da estória foram mais impactantes para mim, acredito que para qualquer leitor, os massacres, as perseguições, as fugas, a verdade do que aconteceu e acontece nas ruas do Afeganistão, é tudo tão pesado e o autor descreveu tudo de forma brilhante, comovente. As lembranças de como tudo era antes, durante e após a guerra deixa a leitura dinâmica. Sou obrigado a achar que os personagens poderiam ter sido poupados de tantos sofrimentos, quando as coisas pareciam ter melhorado… os problemas triplicavam.
A trama nos guarda várias surpresas. Apesar de Amir ter atitudes detestáveis, odiáveis, indignas, ele é cheio de defeitos como qualquer um, é fácil julga-lo e isso me fez perceber quem ele era de verdade, ele era um homem de coração bom. Algo errado feito na infância conduziu sua vida a um caminho cheio de torturas, de todas as formas. Mas é possível ser bom de novo, é possível consertar alguns erros, alguns, outros não.
O Caçador de pipas é impecável e minha resenha não vai transmitir isso, apenas leiam.
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